Autora: Marina Alves
Fofo, fofinho! Pelos
dourados, olhos espertinhos. Filhote de Lhasa Apso, no auge da energia canina.
Na sala do apartamento ele apronta. Puxa a cortina, pula no sofá, arrasta um pé
de meia, persegue um pernilongo, rói o pé da mesa comprada na semana passada.
Enjoado de puxar, pular, arrastar, perseguir e roer, ele agora quer latir.
Latir muito pra quebrar a pasmaceira desse prédio chato e desse tédio de manhã
de domingo.
A dona quer sossego. Ele
a acordou as cinco da madrugada. Na verdade ela ainda está meio dormindo. Urgente!
Ela precisa de algo pra distrair essa coisa fofa antes que ela acorde o prédio
inteiro com seu latido esganiçado. Sacode o marido “Benhê, cadê o osso do Chope?”.
Benhê não sabe de osso nenhum. Também está morto de sono. Pra ele, o latido do Chopinho
não passa de algum efeito sonoro emergindo das profundezas de um desenho
animado.
Ufa! O osso debaixo do
sofá! Junto, uma camiseta sumida desde ontem e as havaianas com as tiras roídas.
Triunfante, ela exibe o troféu: Chope vai ao delírio. Ama aquele ossão! Há
meses vem tentando vencê-lo com seus dentinhos superafiados. Os olhos brilham.
É hoje que dá cabo desse desafio. Num salto magistral abocanha sua vítima. Está
decidido: vai destroçá-la até os últimos vestígios...
Chope no meio da sala,
osso firme na boca. Rói, rói e rói. Ah, que nervoso! Osso duro de roer! A
saliva molhando, as fibras se desprendendo. Tirinhas desfiadas de queijo trança?
Bem parecido. Chope quer arrancar uma tirinha. Mas ela não solta! Ai, que raiva!
Balança freneticamente a cabeça de um lado pro outro. Chi!! A dona adivinha a
catástrofe. Tarde demais pra evitar. Lá vai o ossão voando pela janela!
Horrorizada, ela vê o objeto se projetar perigosamente no espaço. Escuta quando
ele cai com impacto estrondoso. Onde? Bem no meio da mesa de café da manhã do
apartamento em frente. Ai ,
que tragédia! Fazer o quê? Não sabe e não quer nem saber. Corre a cortina e vai
voando se esconder no quarto.
E agora? Bom, agora é se
preparar espiritualmente pra quando for chamada a depor. Acusação? Chamar
sugestivamente o vizinho de cachorro. Difícil negar o crime. As provas? O
grande osso que lhe mandou de presente para o café da manhã...
E o Chope? Na área de
serviço destruindo uma samambaia...
Autora: Marina Alves - Lagoa da Prata/MG
Página da autora:
http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=64920
Publicação autorizada pela autora
Autora: Marina Alves - Lagoa da Prata/MG
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http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=64920
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5 comentários:
Rsrsrs... minhas mesas até hoje tem as marcas dos dentes do meu falecido Aleph. Não consigo desfazer-me delas, pois são uma lembrança dele.
Os animais conseguem nos escravizar voluntariamente, o que é muito saudável. E quando isso acontece é sinal de amor de ambas as partes. Amor a primeira vista, digamos assim, o final é sempre lamentoso e de inesquecíveis recordações. Viva os animais! Não saberia viver sem eles.
Gosto do seu jeito suave de escrever, Marina Alves, você é seguramente uma grande escritora. Bela estória, texto memorável.
O amigo Carlos Lopes me falou dos textos que tem hospedado no blog envolvendo animais, este é o primeiro que leio e devo ler outros com mais tempo. Moro em Vitória de Santo Antão e sempre fui fascinado por animais, sobretudo por cachorros, são amigos. Pra finalizar, gostei muito do seu texto escritora, vou voltar a aparecer mais vezes no blog. Meu nome é José Rildo Rodrigues.
Agradecendo pelas visitas, pelas palavras gentis aqui deixadas. A todos um abraço. Marina Alves.
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